
Num contexto de rápida evolução tecnológica, o papel do Chief Information Officer (CIO) tem vindo a transformar-se de forma profunda e estratégica. Se as organizações pretendem tirar partido do verdadeiro potencial da inteligência artificial, os CIO devem aliar competências técnicas a capacidades de liderança e influência, assumindo-se como agentes centrais da mudança organizacional.
Nenhuma função executiva evoluiu tanto nas últimas décadas como a do CIO. De uma função quase desconhecida há poucas décadas, o CIO passou a desempenhar um papel transversal, estando hoje no centro das decisões de crescimento e inovação das empresas.
Com a tecnologia a assumir um papel cada vez mais determinante para a competitividade dos negócios, os CIO são agora responsáveis não só pela proteção da organização face a ciberameaças, como também por liderar o investimento estratégico em soluções tecnológicas com impacto no futuro.
“Vivemos tempos sem precedentes para os CIO e líderes tecnológicos”, afirmou James Hallahan, Managing Director da Experis na Europa, durante o painel sobre a evolução da função do CIO, na edição de 2025 da Viva Technology, em Paris. “Estes profissionais estão, mais do que nunca, no centro da estratégia de crescimento das organizações.”
Um estudo recente da Experis, que inquiriu quase 1.400 executivos tecnológicos a nível global, revela que as principais áreas de investimento em tecnologia para 2025 são a cibersegurança (77%), a infraestrutura cloud (68%) e a inteligência artificial (67%).
Este cenário está a redefinir a função do CIO. Para Atreya Chaganty, CEO da Quantanite, um dos maiores desafios passa por coordenar-se com outros líderes de negócio, dado que o seu papel já não se limita ao IT, alargando-se à transformação organizacional como um todo.
“Estamos a assistir a um maior envolvimento de outros perfis de liderança, como o CTO, o CDO e o COO”, referiu. “Vários destes profissionais desempenham agora um papel fundamental no processo de decisão. O desafio do CIO passa por saber equilibrar todas estas forças — é um exercício em constante evolução.”
Competências humanas ganham protagonismo
A nova realidade exige aos CIO um reforço das competências humanas, começando por uma mudança de mentalidade: de “especialista absoluto” para “aprendiz contínuo”, como destacou Philippe Limantour, Chief Technology and Cybersecurity Officer da Microsoft França.
“É fundamental aprender todos os dias e reconhecer que se trabalha com outras pessoas,” referiu. “Os indicadores de desempenho devem incluir o que se aprendeu com os outros – e o que se ensinou.”
Embora o aumento da complexidade tecnológica represente um desafio adicional, a IA surge como uma ferramenta estratégica para apoiar o desempenho do CIO — especialmente em áreas críticas como a cibersegurança, que passou a ser prioridade máxima devido à sofisticação e agressividade das ameaças.
Dados recentes demonstram que um ciberataque pode propagar-se em apenas 75 minutos, enquanto a sua deteção pode demorar semanas. Mais de 90% dos ataques têm origem em técnicas de engenharia social, o que evidencia a importância da formação contínua em toda a organização.
Segundo Limantour, a IA pode ser decisiva para antecipar ameaças e capacitar as equipas de forma mais eficaz.
“A IA é excelente porque permite realizar simulações e ter a imersão das pessoas em cenários reais.”, explicou. “Sem IA, isso implicaria milhões em custos de tempo e dinheiro para atingir este nível de formação.”
Em que ponto estão as empresas na adoção da IA?
Segundo o estudo 2025 CIO Outlook da Experis, apenas 20% dos líderes tecnológicos consideram estar numa fase avançada de adoção da IA, com impacto real no negócio. Um terço dos CIO admite não ter uma estratégia clara de adoção futura. A escassez de talento é outro obstáculo: 81% dos líderes revelam dificuldades em encontrar as competências certas.
De utilizadores a criadores de talento
Hallahan acredita que parte da solução está em contratar com base no potencial, em vez de apenas na experiência.
“Todas as organizações devem tornar-se criadoras de talento, não apenas utilizadoras,” defende. “Se continuarmos a recorrer aos mesmos mercados de talento, enfrentaremos sérias dificuldades na transformação digital.”
Também reforçou a importância de uma abordagem global à gestão de talento: “Para aceder às competências certas, as empresas precisam de pensar globalmente – tanto na contratação como na alocação de talento,”.
Em última análise, sublinhou Limantour, passar de usar a IA como uma ferramenta, para adotá-la como uma força transformadora dependerá da ambição humana – especialmente da visão dos CIO.
“O papel do CIO será, cada vez mais, o de gestor da mudança, a reinventar tudo aquilo que se dava como adquirido,” conclui. “Vivemos um momento extraordinário.”
Consulte o estudo completo: 2025 CIO Outlook: Principais Prioridades para os Líderes Tecnológicos